A primeira vez que eu andei de avião devia ter cinco anos. Fui com minha mãe e minha irmã visitar tios e primos que estavam morando em Campo Grande. Fiquei extasiada com a sensação de poder voar. Na época, a Varig trazia toalhinhas umedecidas antes de servir as refeições.
Houve uma vez, que eu não sei por que, mas fomos contemplados com um upgrade! Ao invés de nos sentarmos junto aos reles mortais na segunda classe, nos misturamos aos poderosos da classe executiva. Um luxo! Nécessaire com pasta e escova de dentes, um creme hidratante e uma toalhinha especial, uma pantufa e uma coberta. Ganhei tudo isso!
- mamãe, agora só quero viajar assim!
- isso não é pra gente, minha filha. Papai conseguiu, mas é só hoje.
E na época que podia fumar no avião. Que nojo!
O tempo passou, muita coisa mudou.
Acho que foi na ida para a Austrália que eu deixei de gostar de andar de avião. Não há glamour, nem diversão. Eu já não cabia deitada em dois bancos e o desconforto passou a imperar. Não há ser que agüente 15 horas diretas em um avião.
De lá pra cá, passei a gostar mesmo dos aeroportos. O ir e vir das pessoas. Despedidas, reencontros. Adoro observar as pessoas e criar histórias para elas. Ótima distração.
E como aeroporto é palco sem dono, dei para dramatizar nas minhas viagens. A melhor interpretação foi na minha vinda para visitar a família e festejar o aniversário de 60 anos de meu pai. Saí de Barcelona lépida e faceira. A primeira a fazer o check-in! Entrego a passagem, esboço um sorriso e me informam que terei de passar a noite em Milão!
-cómo? No, no. No me compreendes. Es La boda de mi hermana!
Bastou falar a palavra casamento pra menina pular do balcão, se agarrar no supervisor e comprar a minha briga.
Eu só pensava comigo, se a Francesca conseguir me colocar em outro voo, ela ganha os Lindt que eu to levando pra vó.
Ela tentou de tudo. Mas não conseguiu. E eu em prantos!
No embarque a vi cochichar com uma colega: -pobrecita, se iba a la boda de su hermana!
(detalhe, minha irmã casou-se somente dois anos depois! Arisquei a mentira pra chegar a tempo de surpreender meu pai no dia do seu aniversário).
Então eu gostei dessa história de chorar em aeroportos e aviões. Todo mundo se sensibiliza e o território é totalmente propício para as lágrimas. Ninguém condena!
Domingo chorei durante uma hora no voo que me trouxe do Rio.
Ganhei olhares solidários das aeromoças. E guardanapos extras na entrega do lanche.
Eu tenho duas teorias sobre aeroportos:
1. Dá fome!
2. O lugar é palco de grandes histórias de amor (só perde em charme para estações de trem).