quinta-feira, 31 de maio de 2012

Sobre fatos e fãs


Tirando Bob Marley, não tive grandes ídolos na adolescência, não fui tiete de nenhuma banda. Mas sempre gostei muito de música e de ir a shows. E a primeira vez que eu senti tesão foi assistindo ao Paulo Ricardo, ainda no RPM, tocar na televisão. Devia ser no programa de sábado do Gugu e eu devia ter uns 12 anos.
 Tesão é algo meio inexplicável por que vem do nada. Talvez tu nem ache a pessoa bonita ou tenha qualquer afinidade com ela, mas tu sentes tesão. Ponto. Não é carinho nem admiração, respeito ou amizade. É simplesmente desejo. Vontade louca de se divertir um pouquinho. E tu não ficas esperando que essa pessoa vá te amar ou te pedir em casamento. Não! Isso é a última coisa que passa pela tua cabeça. O que se quer mesmo é realizar uma fantasia. E só.
É um golpe de instinto, animal, um querer irracional, que não surge de estímulo mal intencionado ou programado. Simplesmente chega e toma conta. E meio que fode com o teu dia. Tu podes flertar, dar em cima, levar a pessoa pro quarto, mas tu não tens como garantir que ela vá sentir um tesão genuíno. E nunca é igual. Não tem padrão. É realmente algo que não se controla.
Aconteceu comigo recentemente saindo do ônibus, o cantor fazendo o cover de uma músiquinha da moda, ouvi  no rádio. Uma voz gostosa. Fossem outros os tempos, ficaria só na sonoridade do imaginário, mas com internet e Google à disposição, dá-se caras e bocas (e que boca!) ao desejado em questão. Descobri toda uma banda que eu já tinha ouvido e já tinha gostado. Daí pra querer ser outra vez adolescente e fantasiar com uma ida a Londres ver o cara é um abraço. Inglês, dentinho torto, moderninho, nariz forte, sotaque irritantemente afrodisíaco: mão cheia para o delírio da imaginação. Ouvi uma entrevista ele dizendo que compôs uma musica no banheiro do avião...
Ao invés de ter ido para a Austrália, eu deveria ter 16 anos e estar de viagem marcada para a Inglaterra. Minha família inglesa moraria no norte de Londres e eu teria um vizinho meio esquisito, meio interessante. Ele tocaria aquele violão com a mesma destreza e cantaria seu hit, que, na hora, eu ia achar bonitinho, mas não teria ideia do seu potencial de sucesso. Poderia ter tido um doce affair.
Uma pena eu nunca ter idolatrado o vocalista de uma banda na época que isso seria justificado, pelo menos algum que fosse vivo o suficiente. Tenho certeza que eu teria sido uma fã incrível.

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Gratidão


Numa dessas incursões ao youtube, me deparei com o depoimento de uma senhora sobrevivente do holocausto, alguém que nunca deixou de sorrir, mesmo tendo visto coisas absurdas e ter vivido em um campo de concentração.
Uma frase ficou marcada em mim: na vida, tudo é um presente! Tudo depende da maneira como tu encaras determinada situação, ou todas as situações.
Com certeza, há mais para agradecer do que reclamar. Muito mais! Razões de sobra para levantar as mãos para o céu e gritar bem alto, ou fazer isso no silêncio do pensamento, O-BRI-GA-DA.
Fragmentando a minha vida em pedacinhos como os de um um quebra-cabeça, encaixando família, amigos, saúde, oportunidades, experiências, inteligência emocional, ambições, prazeres, possibilidades, otimismo, refeições na mesa, férias merecidas, alívios imediatos... tem pouco espaço para as perdas, as faltas, a desarmonia, a dor e a tristeza.
Agradeço, também, pela orelha grande – que me permite ouvir música e assim transformar qualquer situação; a altura que engana – todos me acham mais alta do que eu realmente sou; o sobrenome – ser verde é de uma amplitude maravilhosa; não gostar de camarão – acho um animalzinho superestimado; ao prazer de lavar a louça – terapiazinha Express; ter boas ideias, senso de humor...
E, por que não, um thank you very much a todas as relações que não deram certo, aos caras que eu quis e nem sequer notaram a minha presença, aos pés na bunda, ao sumiço sem mais nem menos. Todas essas foram oportunidades para eu me conhecer e ser melhor.
E, claro, ao otimismo! Para conseguir acreditar que tudo na vida é realmente um presente. E é no presente que a gente tem que estar. Completa e incondicionalmente.