quarta-feira, 10 de outubro de 2012

A culpa é do Miles Davis

Sexta-feira a noite. Toda usando roupa nova, academia em dia. Festinha de aniversário da amiga que reúne gente querida. Desde o dia que ela fez o convite, seguidas à risca todas as orientações, confirmar presença por email, levar bebida e um belo sorriso no rosto. Entre grupinhos de gente que dança, gente que fala da novela, gente que fala da bunda da menina, entre 4 doses de vodka com H2O, surge vida inteligente na festa: gente que fala de jazz, de arte, de política, de boicotes, de brasilidade, de Gaudí, de Helio Oiticica. Gente que seria fácil demais se apaixonar...

Uma amiga te apresenta os colegas de trabalho. Enquanto vocês estão buscando uma bebida, ela te pergunta o que tu achaste do falaninho de tal. Tu responde que achou querido e gatinho. Ela diz que ele é ótimo, talentoso, etc., etc. e comenta que o moço tem uma namorada que mora em outra cidade. – Ok, me avisa quando ele não estiver mais namorando.

Ai tu descobres que a namorada da pessoa que redefiniu a tua procura, a mesma que mostrou que existem pessoas bem mais interessantes das que andam cruzando o teu caminho, é gente finíssima, bacana, divertida e que tu já tinhas até pensado em fazer contato com ela na próxima vez que visitasse a outra cidade.

Então, senta num pudim!

quinta-feira, 12 de julho de 2012

No mesmo tom


Um ano madura. Faz-te crescer. E certas nuvenzinhas que assombravam a tua cabeça simplesmente dissipam e dão lugar a outras, as vezes mais densas, as vezes bem mais rasas. 

Tu mudas de endereço, ganha corpo, engrossa a massa encefálica e abre espaço no armário para as encomendas que ainda não chegaram. Mas ai, falta lugar nesse mesmo armário, por que tu simplesmente ignorou o volume de todas as coisas que carregas consigo. 

Ai vem a tua psicóloga e te dá um tapa na cara. Depois de encheres o peito para relatar um caso achando que a culpa era 100% do outro, ela vem e te prova que a culpa também foi tua, talvez toda a culpa.  

Me receitam um guru. E eu automedico a minha rinite.E agora embestei numas de ter negócio próprio. Me livrei recentemente de ter encasquetado com um cara que só soube me cozinhar. Ando recebendo elogios da minha comida. E ando andando bastante, pra lá e pra cá. Pensando em adotar nova premissa: fazer todos os dias, antes do pôr do sol, alguém sorrir. Estou sem livro bom pra ler. E muitas vezes quero mudar um pouco de quem sou. 

Faz três semanas que só pinto as unhas com o mesmo esmalte.

sexta-feira, 29 de junho de 2012

Eu tive uma ideia

A ideia da rede social menos virtual e mais interativa. Eu toparia.

Sou dessa geração hibrida que cresceu brincando de policia e ladrão, pogobol e tênis bamba. Logo que entrei em contato com computadores, nas aulas de informática, não entendia toda aquela empolgação do professor com um tal de MS DOS. Tentaram me apresentar pra ele, mas eu virei a cara. Só fui dar importância àquela ferramenta quando surgiu a internet e eu tive necessidade de comunicação devido à distância.

Movimento social pra mim tinha sido a participação da minha irmã no impeachment do Fernando Collor de Mello, os caras pintadas. Sabia que rolava certa interatividade entre a galerinha mais nerd, os chamados pen pals – galera que se correspondia por cartas, muitas vezes escrevendo em outra língua.

Hoje eu trabalho com mídias sociais, tento estar em dia com as noticias de tudo que é lançado, mas meu celular ainda é arcaico e digno de bullying por parte dos meus amigos. Adoro todas as facilidades da internet, mas não recuso um convite para sair de casa e ter um contato mais aproximado com as pessoas. Eu vivo com um pé no ultra moderno e outro no the old way of life! – tipo, saudosista do som que só o vinil reproduz e das mixed tapes que eu gravava amarradona!

Esses dias um amigo riu muito do meu reprodutor de musica, o winamp. Sou obrigada a usar o itunes se quiser manter a fachada de guria que entende da coisa. AAAPA PORRA! Que canseira tudo isso.

Mas foi entrando em contato com uma iniciativa que eu achei genial, a bookcrossing, em que tu podes deixar um livro em lugar predeterminado e pegar outro, inclusive podes fazer a busca por algum exemplar específico que alguém disponibiliza em algum lugar do mundo... enfim, uma rede de troca. Uma forma de sociabilizar sem muito contato cara a cara, mais mente a mente.

Foi ai que eu “bolei” a ideia de juntar os antigos pen pals com o bookcrossing. Funcionaria assim: as pessoas se inscrevem numa rede social falando dos seus livros, tipos de leitura que curte e então os trocariam com as demais. Assim, pelo correio, recebe na caixa de correspondência, deixa uma dedicatória, marca a página com o canto da página dobrado.

Pode até ser que as pessoas pudessem marcar de trocar os livros pessoalmente, em algum lugar público, café, parque, restaurante, e se conhecer um pouco mais. Trocar além de livros, ideias, olhares. Ou isso seria muito ousado?

quinta-feira, 31 de maio de 2012

Sobre fatos e fãs


Tirando Bob Marley, não tive grandes ídolos na adolescência, não fui tiete de nenhuma banda. Mas sempre gostei muito de música e de ir a shows. E a primeira vez que eu senti tesão foi assistindo ao Paulo Ricardo, ainda no RPM, tocar na televisão. Devia ser no programa de sábado do Gugu e eu devia ter uns 12 anos.
 Tesão é algo meio inexplicável por que vem do nada. Talvez tu nem ache a pessoa bonita ou tenha qualquer afinidade com ela, mas tu sentes tesão. Ponto. Não é carinho nem admiração, respeito ou amizade. É simplesmente desejo. Vontade louca de se divertir um pouquinho. E tu não ficas esperando que essa pessoa vá te amar ou te pedir em casamento. Não! Isso é a última coisa que passa pela tua cabeça. O que se quer mesmo é realizar uma fantasia. E só.
É um golpe de instinto, animal, um querer irracional, que não surge de estímulo mal intencionado ou programado. Simplesmente chega e toma conta. E meio que fode com o teu dia. Tu podes flertar, dar em cima, levar a pessoa pro quarto, mas tu não tens como garantir que ela vá sentir um tesão genuíno. E nunca é igual. Não tem padrão. É realmente algo que não se controla.
Aconteceu comigo recentemente saindo do ônibus, o cantor fazendo o cover de uma músiquinha da moda, ouvi  no rádio. Uma voz gostosa. Fossem outros os tempos, ficaria só na sonoridade do imaginário, mas com internet e Google à disposição, dá-se caras e bocas (e que boca!) ao desejado em questão. Descobri toda uma banda que eu já tinha ouvido e já tinha gostado. Daí pra querer ser outra vez adolescente e fantasiar com uma ida a Londres ver o cara é um abraço. Inglês, dentinho torto, moderninho, nariz forte, sotaque irritantemente afrodisíaco: mão cheia para o delírio da imaginação. Ouvi uma entrevista ele dizendo que compôs uma musica no banheiro do avião...
Ao invés de ter ido para a Austrália, eu deveria ter 16 anos e estar de viagem marcada para a Inglaterra. Minha família inglesa moraria no norte de Londres e eu teria um vizinho meio esquisito, meio interessante. Ele tocaria aquele violão com a mesma destreza e cantaria seu hit, que, na hora, eu ia achar bonitinho, mas não teria ideia do seu potencial de sucesso. Poderia ter tido um doce affair.
Uma pena eu nunca ter idolatrado o vocalista de uma banda na época que isso seria justificado, pelo menos algum que fosse vivo o suficiente. Tenho certeza que eu teria sido uma fã incrível.

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Gratidão


Numa dessas incursões ao youtube, me deparei com o depoimento de uma senhora sobrevivente do holocausto, alguém que nunca deixou de sorrir, mesmo tendo visto coisas absurdas e ter vivido em um campo de concentração.
Uma frase ficou marcada em mim: na vida, tudo é um presente! Tudo depende da maneira como tu encaras determinada situação, ou todas as situações.
Com certeza, há mais para agradecer do que reclamar. Muito mais! Razões de sobra para levantar as mãos para o céu e gritar bem alto, ou fazer isso no silêncio do pensamento, O-BRI-GA-DA.
Fragmentando a minha vida em pedacinhos como os de um um quebra-cabeça, encaixando família, amigos, saúde, oportunidades, experiências, inteligência emocional, ambições, prazeres, possibilidades, otimismo, refeições na mesa, férias merecidas, alívios imediatos... tem pouco espaço para as perdas, as faltas, a desarmonia, a dor e a tristeza.
Agradeço, também, pela orelha grande – que me permite ouvir música e assim transformar qualquer situação; a altura que engana – todos me acham mais alta do que eu realmente sou; o sobrenome – ser verde é de uma amplitude maravilhosa; não gostar de camarão – acho um animalzinho superestimado; ao prazer de lavar a louça – terapiazinha Express; ter boas ideias, senso de humor...
E, por que não, um thank you very much a todas as relações que não deram certo, aos caras que eu quis e nem sequer notaram a minha presença, aos pés na bunda, ao sumiço sem mais nem menos. Todas essas foram oportunidades para eu me conhecer e ser melhor.
E, claro, ao otimismo! Para conseguir acreditar que tudo na vida é realmente um presente. E é no presente que a gente tem que estar. Completa e incondicionalmente.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Das coisas que não surtem efeito!

Alguma coisa me lembrou a época que eu trabalhava em um hospital. Nada a ver com a área médica, eu ficava sentada na sala da comunicação criando pautas para um informativo interno e dando assessoria de imprensa. Era um trabalho tranquilo. A comida no refeitório era uó, mas compensava aquele monte de residentes gatos de jaleco. Eu tinha os meus preferidos...

Nos altos dos meus 23 anos eu dominava o meu campinho: a metade de uma sala de 6m², a mesa e o computador. Muito pleiteei por um ar condicionado e até o dia que eu fui embora não tomei conhecimento de nada que refrescasse aquele local sem janelas.

Mas a vista era boa. Perto da entrada. O ir e vir do pessoal de branco. Eu me distraia. Volta e meia enrubescia de interesse por alguém que me chamasse mais atenção. E, certa vez, lá estava ele, um galã. Podia ter facilmente sido tirado de um seriado americano. Seria um candidato perfeito a ocupar o posto do George Clooney em ER.

E como não podia deixar de ser, eu não era a única que pensava assim. O moço tinha uma legião de fãs. Achei que por ser a mais nova eu teria alguma vantagem. Ledo engano. Ele mal me dava as horas.

Um dia me irritei com a situação de não ser notada e resolvi tomar uma atitude drástica. Deixei um bilhetinho me apresentando no pára brisa do carro do tal cara.

E foi isso. Não deu em nada. O máximo que eu consegui foi encontrar o menino em uma festa e dar a cara ao tapa:
- Bah, eu te deixei um bilhete no carro.
- Pois é, eu vi. Mas eu to meio enrolado...
- Tranquilo! (o que eu ia dizer nessa hora?)
- Mas assim, vai rolar...
- ???

E eu to até hoje sentada, esperando.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Dos quereres

Quero encher a minha vida de poesia. De palavras que se complementam e formam a vontade de ser da frase. Sem necessariamente fazer sentido pra muita gente, bem longe do senso comum. Que essa poesia seja simples e extraordinária. Que me acompanhe.

Quero encher a minha vida de arte. Para que as cores preencham as minhas horas e as formas me façam companhia. Já disse que quero as paredes cheias de quadros, molduras, fotografias e as estantes cheias de livros.

Quero encher a minha vida de música. Que cada passo tenha uma trilha sonora. Que me faça dançar mesmo que eu não queira. Que me obrigue a me mexer mesmo que eu esteja parada.

Quero encher a minha vida luz. Para devolver energia a quem me faz bem. Para purificar a minha alma. E saber que o mais escuro da noite é antes do amanhecer.

Quero sorrisos sinceros, abraços apertados, a mão estendida que sustenta e o corpo que envolve.

Quero doce, salgado e picante. Dispenso o amargo.