Desceu as escadas puxando a borrachinha que prendia o cabelo, desequilibrou. Riu de si mesma ao atingir o último degrau. Pensou em sentar-se à mesa, fazer um suco natural para acompanhar a leitura do jornal, mas soube antes mesmo do pensamento terminar que não teria tempo para ler. Nem para o suco. Perdeu instantes preciosos trocando os objetos pessoais de uma bolsa para outra, já que era dia de usar a azul e tudo estava alojado na preta. Fechou a porta com agressividade. O dia invadira o seu corpo. Uma angustia penetrara em sua alma. Segunda-feira. Deixava para trás algumas horas de descanso e a esperança de estar feliz naquela manhã. Não estava feliz. Não se sentia contente.
No caminho até o trabalho se distraiu com algumas músicas tocadas na sua rádio não favorita e lembrou que um dia já quis ser radialista. Na época em que podia ser tudo e qualquer coisa e não sentia o peso de seguir profissionalmente o resto da vida. A bolsa não pesava e não carregava nenhum sonho. Teve a certeza de que nunca fora amada suficientemente na vida e duas lágrimas percorreram a linhas do nariz até o queixo, cada uma de um lado.
Ela queria reviver alguns momentos do passado. Relembrou lugares, ressuscitou pessoas na lembrança. Foi dura consigo mesma ao pensar no seu presente. Ela lembrou que se esqueceu de sorrir para o seu reflexo no espelho, uma prática que jurou ter introduzido a sua rotina com a leitura da noite passada.
Suspirou.
Ai Lulu... fala pra "ela" que sim, ela foi, eh e sera ainda muito amada. Acho que o "resto da vida" e tempo demais. Não precisamos carregar esse peso, quem foi que disse que não da mais tempo de mudar... sempre da.
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